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Quem acompanha as múltiplas criações de Sérgio Medeiros pode esperar uma surpresa feliz a cada nova publicação, pelas variações de tom e de gênero de seus livros: entre dramaturgia, crítica com humor, imersão na paisagem natural e humana, delírio surreal e retrato realista, poesia e narrativa... um universo a se desdobrar através de suas visões tão precisas quanto imaginativas. A capacidade sensória para fotografias com palavras, em que se recorta, amplia, exprime, sempre o distinguiu, como haicais em forma de gravuras.
Nos últimos tempos, mais uma inovação: a pintura dos glifos – algo entre hieróglifo, arabesco, código maia, action painting – conversa, um tanto misteriosa, com os escritos. As cores e texturas já perceptíveis antes, em seu estilo de presenças substanciais, ganham materialidade.
Em Porto do Pantanal, duas personagens míticas se acasalam e se invertem para dar origem a um espetáculo de águas inconstantes, abertas à incompletude do que gera e é gerado. Os elementos da natureza (rios, corixos, pântanos, nuvens, barro) revoluteiam à volta da energia erótica de Cipac e Rusal. Deles emergem letras (glifos silvestres) nascidas de ovos de pássaros, de ventres de bichos, em meio a peixes-folhas, nesse mundo cambiante. Sem decidir se é verso ou prosa rítmica, marcada por reticências que indiciam continuidades e fluxos, a narrativa dá a ver os coleios da onça-pintada, as batidas das patas do jacaré, o voo da ninfa, numa dança da qual rebentam como flores seres-letras. A escultura “dorsoonda”, reproduzida no final, parece sintetizar o casamento “tumultuoso” (na definição do autor) de cosmogonias poéticas e de palavra com desenho.
Ao final, não saímos do livro. Imersos em seu vigor inquieto, pressentimos amplos movimentos de expansão, que anunciam partos e brotos a se revelar.
Sergio Medeiros (Bela Vista, Mato Grosso do Sul, 16 de junho de 1959) é poeta, artista visual, dramaturgo, ficcionista, ensaísta, tradutor e professor de literatura na UFSC. Ganhou o Prêmio Literário Biblioteca Nacional 2017 na categoria Poesia, com a obra A idolatria poética ou a febre de imagens. Sua obra poética, em parte já traduzida para o espanhol, o italiano e o inglês, é verbo-visual e busca inspiração no pensamento ameríndio, explorando especialmente o totemismo. Uma noção sempre presente nos seus textos (nos quais se destacam o símile e a prosopopeia como principais figuras de linguagem) é a de “sex appeal dos vegetais”, a qual o levou a dialogar com o filósofo italiano Mario Perniola, de quem editou alguns ensaios no Brasil quando foi diretor da Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC).