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Desde que apareceu em nossa poesia, Régis Bonvicino vem se afirmando com sua voz própria, inconfundível. A experimentação mais arrojada vem sempre acompanhada, nele, de uma grande inquietação existencial, marcada que está pelo patético dos grandes momentos em que a poesia se apossa de alguém. Se pratica o jogo intertextual, este jogo não sufoca a voz do poeta e nunca se torna casual ou gratuito. A citação de Cesário Verde ou de Jules Laforgue adquire nova conotação, a leitura torna-se escritura, a voz de fora dialoga com a voz interior.
Se isto já vinha se afirmando nos livros anteriores, Bicho Papel 1975, Régis Hotel 1978, Sósia da Cópia 1983 e Más Companhias 1987, agora explode (realmente, é o termo que me ocorre) neste 33 Poemas, intenso e maduro, com momentos de rara concentração de poesia: basta abri-lo na página de “Triste como um pôr-do-sol”. Mas a fala que aí se ouve tem muito a ver com algo que repercute em outros poemas do livro. Assim, o título deste pode ter algo de escondendo, pois, embora finja uma independência dos diferentes poemas, na realidade tem algo uno e coerente. Há um ressoar de página a página, que será certamente detectado pelo leitor, que saberá fruir — tenho certeza! — a hybris desses textos, a embriaguez e intensidade com que se apresentam, intercalados aqui e ali de uma piscadela maliciosa.
Nesta vivência profunda, os tempos se misturam (veja-se a coexistência de “balões” de história em quadrinhos e termos da poesia galego-portuguesa medieval em “Zap”), os espaços se interpenetram (como em “Espaço Sideral”, onde o poeta reúne “a origem dos rios”), as letras adquirem vida própria (o “mmmmmmmmmmmm” da centopeia em “Num zoológico de letras”), o inanimado torna-se sensível e a poesia se impregna de natureza, a tal ponto que não se estranha, por exemplo, o aparecimento de um “rato anapéstico”.
Tocado pela mão do poeta, o mundo surge mais intenso, mais amplo, mais musical. Saibamos apreendê-lo nesta riqueza e exuberância!
Boris Schnaiderman