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OLHO REAVIDO

LUCI COLLIN

  • R$ 59,00

amar sem ter

            é paradoxo de tempo e espaço

            é sismo sem magnitude

amar sem ver

amar sem nunca saber

            é o oco do solilóquio

            é o virtuosismo do mormaço

amar sem haver, sem nem refúgio nem regaço

            o solipsismo do osso

            o insosso do avatar

amar sem contemplar

amar sem abraço

            é o aço do estoicismo

            é esboço de amar, ameaço

amar sem abranger

            é a armadilha da troça

            bagaço de amar, sobrosso

amar sem ter vossa mercê

            haver-se assim não se possa

amar sem ser

 

 

O “olho reavido” deste novo livro de poemas de Luci Collin preenche o espaço entre o dito e o não dito. Luci ousa na escolha do que enuncia e no silêncio que fala (“o justo pejo do silêncio honrado na palavra feito olho”; “luz sem sombra, silêncio bruto”). Da leitura das imagens dos poemas, concluímos que o olho não é incisivo, que pode ser de “pérola e espanto”, pode ser um coração que sangra e ser ilusório o que vê. Enxerga os entardeceres e o escuro, o da “noite solitária e cega” de uma epígrafe de Agrigento.

“Um olho de alcance enigmático e admissível” está também no esquecimento e na memória, “engenho e abrigo” que tornam presente a ausência. “Protege contra lembranças mutiladas”, segue os caminhos da melancolia e do desejo e vê a história fugir “nalgum cavalo fátuo porque tem seu próprio alfabeto.” Memória “de baú primitivo” (“sou longe e existida”): o que já foi e dolorosamente falta.

Uma poesia “que resulta de sentimento” — “sim, isso” —, para parodiar uma epígrafe de Wallace Stevens, não teme o lugar do “eu”, aqui um “eu” oblíquo, contido, “severo” ou “extravagante”, que não se sobrepõe à segunda ou à terceira pessoa, nem às coisas (“o que é mais desconforme nisso tudo: eu mesma/ou/essa mesa que pus/com duas xícaras de chá”). Este “eu” está na substância sólida ou na mais etérea, naquilo que o olho vê ou a mão alcança (“eu nessa, tanto o vulto quanto o halo eu nisso”).

Em palavras bem escolhidas, que surpreendem e desconcertam, os versos falam “do escasso e do tímido”, “sem permissão de água nenhuma”, e “insistem na exposição da nossa existência rala.” Poesia límpida, sem excessos. Precisa.

Existem referências sutis e outras diretas, como a do poema intitulado “Cantares”, que evoca o Cântico dos Cânticos: ”seja prazer e louco proveito/ porque não guardo vinha nem preceito para além do arroubo/do gozo.”

Cada verso deste livro deve ser observado com olho desapressado. “Tudo que é belo é lentamente”, diz um deles.

João Almino

 

 

Luci Collin, poeta, ficcionista, tradutora e educadora curitibana, tem mais de vinte livros publicados. Foi finalista do Prêmio Oceanos com Querer falar (poesia, 2014). Por esta editora tem publicados A árvore todas (contos, 2015), A palavra algo (poesia, 2016, Prêmio Jabuti), Papéis de Maria Dias (romance, 2018 — com peça teatral homônima montada pelo Teatro Guaíra), Rosa que está (poesia, 2019, finalista do Prêmio Jabuti) e Dedos Impermitidos (contos, 2021, Prêmio literário Clarice Lispector, Biblioteca Nacional). Participou de diversas antologias nacionais e internacionais (nos EUA, Alemanha, França, Uruguai, Argentina, Peru e México). Com Doutorado em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês (USP, 2003), é professora aposentada do Departamento de Letras Estrangeiras Modernas da UFPR. Ocupa a Cadeira n. 32 da Academia Paranaense de Letras.

Autor(a) Luci Collin
Apresentação André Seffrin
Nº de páginas 108
ISBN 978-65-5519-178-3
Altura 13,5x20,5 cm

Autores

LUCI COLLIN

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